Edição, ou montagem, é a organização das imagens captadas numa ordem coerente, segundo um roteiro, para a compreensão da mensagem e do conteúdo de um vídeo, filme ou programa. Quando assistimos hoje a um programa de TV ou a um filme não percebemos este trabalho pois já faz parte de nossa memória coletiva a sobreposição de imagens (uma após a outra) numa tela qualquer, seja a de cinema ou a da TV. Montagem nada mais é do que colocar as peças juntas para formar um todo. No audiovisual é juntar as tomadas, ou takes gravados, para formar um todo coerente, e de acordo com o roteiro.
A imagem, num filme ou vídeo, pode mudar de ponto-de-vista, de lugar, e até de tempo. Se você olhar uma cena gravada, tirada do todo, ela não fará sentido. Os takes ganham sentido quando montados juntos, numa determinada ordem, e essa ordem pode alterar o sentido. Portanto, o montador, ou editor de imagens, deve atentar para o coerência da montagem com a significação que o roteiro quer dar, o sentido da história. Isso será sua guia para uma edição bem feita.
Nesse sentido, é importante lembrar as experiências feitas por Lev Kuleshov, professor russo de cinema da década de 1920, que através de mostrar combinações de imagens projetadas a seus alunos chegou a importantes conclusões. Falaremos disso num próximo post.
A organização de imagens numa edição tem alguns efeitos básicos. São eles:
– Corte (ou Corte Simples): é quando uma imagem de uma determinada cena, ou personagem, é subitamente substituída por outra diferente, de outro ângulo, ou outra cena, ou outro personagem. É uma simples substituição de uma imagem por outra. O nome, corte, vem do fato de que, nos primórdios do cinema, as imagens eram filmadas (capturadas) num rolo de filme preparado com uma emulsão de nitrato de prata, sensível à luz. As cenas eram filmadas nestes rolos e depois reveladas (como uma fotografia era revelada antigamente). O editor, ou montador, tinha então em suas mãos vários rolos de alguns metros de filme com as cenas do roteiro. Então ele tinha que, literalmente, cortar as cenas, ficando com tiras de trechos filmados, e cola-las com uma cola especial, umas após as outras para exibir numa determinada ordem, de acordo com o roteiro, as imagens filmadas pela câmera. Assim, ele terminava com um rolo de pedaços de filme colados um após o outro formando o filme “montado”.
O corte indica uma ação que ocorre imediatamente após a outra ou simultaneamente, em montagem paralela. Quando assistimos uma sequencia de cenas com cortes de imagens uns após os outros, entendemos este tempo como contínuo, isto é, a história evolui para frente no tempo, em continuidade.
Montagem Paralela, ou Paralelismo, ou Montagem Alternada, é quando duas cenas são exibidas alternando-se uma à outra, em continuidade no tempo. O público percebe as ações como ocorrendo simultaneamente e ora vemos uma, ora vemos outra, até o desfecho final das duas, em separado, ou as duas transformando-se em uma só. No cinema americano é clássica a cena do mocinho que vem salvar a mocinha, amarrada nos trilhos de uma rodovia: à medida que vemos o trem se aproximar para matar a mocinha, vemos também o mocinho chegando à galope para tentar salva-la. Quem chegará primeiro? Tensão…
– Fade (do inglês; esvanecer, desbotar, descolorir): Os primeiros montadores do cinema, no século passado, tinham que transformar o material revelado (negativo) em material de exibição (positivo), e para tal faziam um facho de luz incidir sobre a película revelada tendo logo abaixo uma película virgem, que avançava em paralelo com a película revelada. A imagem, que no negativo era invertida, tornava-se de novo cópia fiel da realidade, isto é, positiva.
A sequência deste tipo de procedimento fez com que eles descobrissem que poderiam apagar aquela fonte de luz devagar, fazendo com que a película, lentamente, deixasse de ser atingida pela luz, não impressionando a película virgem abaixo. Quando esta fosse revelada (o positivo) o final do filme parecia estar escurecendo, descolorindo-se, até que a tela ficasse completamente negra e sem imagem. Daí surgiu o fade.
O efeito de fade pode ser de duas formas: Fade IN – é quando da tela completamente preta começa a surgir aos poucos uma imagem, que finalmente aparece em toda a sua luz e cor; e Fade OUT – quando a última imagem de uma cena começa a desaparecer, gradativamente, até que toda a tela fica escura. Detalhe: é possível fazer o Fade com outras cores além do preto.
Os primeiros estudiosos do cinema constataram que, para o público, o Fade (quer seja in ou out) lhes dava uma ideia de passagem de tempo. Isto é, a cena que começava após um Fade In, era uma cena posterior (ou anterior) no tempo. Esta constatação ficou em nossa memória coletiva, de tanto ser repetida por cineastas ao longo do tempo, em cinema ou televisão.
– Fusão (ou Dissolve, em inglês): é quando uma imagem se “funde” na outra, isto é, se sobrepõe à outra.
Também uma descoberta dos primórdios do cinema, a Fusão acontece quando uma cena (ou imagem) está acabando enquanto outra começa sobre ela, até que ocupe o espaço onde estava a anterior, que some. A Fusão nada mais é do que a soma de um Fade Out (cena que desaparece) com um Fade In (cena que surge) sem o preto, descoberta por estes mesmos montadores do início do cinema. Aqui também o significado geral compreendido pelo público (memória coletiva) é o de passagem de tempo, embora a Fusão possa ser usada dentro de uma mesma cena, sem este significado.
– Wipe (do inglês, wipe out; obliterar, erradicar, varrer): é quando uma imagem substituí outra na tela, como no corte simples, mas isso é feito gradualmente, através de um efeito digital (eletrônico) que forma, entre uma imagem e outra, uma margem distinta. Aqui, diferentemente do corte, fade ou fusão, percebemos claramente o uso de um artifício eletrônico (efeito gerado por um equipamento de edição). Acontece quando, por exemplo, assistimos a um desfile de carnaval: num momento estamos vendo um plano geral da avenida, com a Escola de Samba inteira na imagem desfilando e, de repente, vemos a imagem de um pandeiro voar sobre a tela e trazer outra imagem, agora o close do rosto de uma passista sorridente que desfila na avenida.
A história do Wipe vem do cinema, de seriados produzidos para serem exibidos nas matinês de domingo nas salas de cinema no início do século XX. Seriados americanos de ficção científica como Buck Rogers ou Flash Gordon, tornaram popular o efeito de Wipe para transição de imagens dentro da história, dando a estas um aspecto “moderno” para a época. Um cineasta atual que celebrou este pioneirismo repetindo-o em seus filmes foi George Lucas, em sua série Star Wars: muitas vezes, quando vemos a história passar de uma cena para outra, podemos identificar o efeito de Wipe, quando uma linha visível atravessa o quadro “varrendo” uma imagem para substituí-la por outra.
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