A Direção de Atores e Apresentadores

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Dirigir atores ou apresentadores é, de longe, a tarefa mais difícil de um diretor. Ao idealizar planos, analisar ou decupar roteiros, decidir sobre figurinos, cenografia ou iluminação, o diretor trabalha sozinho com sua capacidade e seus talentos, ou soma os seus ao de especialistas em cada área da produção. Diferentemente, ao trabalhar com atores ou apresentadores, o diretor vai lidar com as inseguranças e nuances do ser humano, em estado mais ou menos latente, na figura do ator ou apresentador. Muitas vezes, o diretor terá que ser também um psicólogo, sabendo administrar egos, conduzindo com maior ou menor intensidade a interpretação do ator, ou a postura do apresentador, e verificando se o resultado esperado está sendo atingido.

O ator trabalha com sua sensibilidade, com a construção de um personagem. É uma pessoa que, por exemplo, tem que interpretar um momento de dor e solidão absolutas quando tem ao redor de si dez, quinze ou trinta pessoas, toneladas de equipamento, e várias fontes de luz incidindo diretamente sobre ele. Não é fácil. Para muitos atores e apresentadores, nada disso conta: eles têm uma presença, ou às vezes uma naturalidade, que supera todo este aparato, e eles “dominam” o set de gravação. Para estes, o diretor deve demonstrar domínio sobre todas as técnicas envolvidas (atuação entre elas) e pulso firme para que a “naturalidade” não leve a interpretação para bem longe do esperado.

O diretor pode e deve ter esta voz de comando. Em outros casos, o ator se sente intimidado pelo aparato e, apesar de sabermos que ele é um bom ator ou apresentador, ele não consegue desenvolver o trabalho, qualquer coisa o incomoda. Cabe aí, ao diretor, o papel de reforçar os pontos positivos demonstrados, ou que ele sabe que o ator tem. O diretor deve estimula-lo a “esquecer” o ambiente e concentrar-se no papel exigido pela produção, de uma maneira que desperte o melhor da pessoa humana escondida sob a pele do ator. Muitas vezes, ajuda-lo, no ensaio ou na gravação, fazendo parte do diálogo off câmera, interpretando junto com ele a cena, para que ele “entre no clima”.

Em geral, tanto a televisão quanto o cinema costumam “aumentar” visualmente certas características. Como por exemplo, quando diz a lenda que a televisão “engorda”, na realidade, ao destacar uma imagem suas características são realçadas junto. Por isso, na frente da câmera, gestos e falas precisam obedecer certo controle por parte do diretor de cena pois o que é grande fica enorme! O que é falado com ênfase pode parecer gritado! Ao contrário do teatro, onde certo exagero gestual ou de impostação de voz é útil para a ênfase do texto, frente à câmera isso pode parecer irreal, forçado.

Dito isto, existem algumas providências que o diretor deve tomar para o trabalho com atores. São elas:

– Ler o roteiro, na fase de pré-produção, com cada ator lendo seu papel e o diretor lendo a ação. No caso de uma produção de ficção, essa atitude é de valor inestimável. A partir da primeira leitura, e de quantas leituras subsequentes forem necessárias, vão se achando as nuances de cada personagem e vai se alterando o que não funciona no texto.

– Em produções de televisão, onde tempo é dinheiro, em geral não se tem o tempo para as leituras de roteiro. São os próprios atores que fazem essa leitura, em casa ou em qualquer outro lugar, antecipando-se ao dia da gravação. Como atores diferentes farão leituras individuais, cabe ao diretor, no ensaio já no estúdio, “equalizar” as interpretações fazendo com que elas mais se aproximem do resultado esperado (um ator está num ritmo muito acelerado, ou outro está num ritmo lento; um ator está carregando demais na dor ou sofrimento, mas a cena é mais leve do que isso; um dos atores exagera no gestual enquanto outro é muito comedido).

– O ensaio no set, locação externa ou estúdio, para avaliar a movimentação dos atores e câmeras em cena (o blocking, como veremos num próximo post) é fundamental para testar se o que foi pensado funciona, se o ator (atores) se sente à vontade fazendo este ou aquele gestual ou movimento. Quanto mais natural for a movimentação, mais fácil fica passar a mensagem do texto.

– Conversar com os atores, antes das gravações, nos camarins, e fazer perguntas sobre o que ele está pensando em relação ao personagem, à movimentação, se está sentindo-se confortável com relação ao que está fazendo ou não.

– Convida-los a assistir a tomada que acabou de ser realizada para que possam ter uma visualização espacial de como seu personagem se comporta na cena.

– No caso de apresentadores, quando o apresentador trabalha com um ponto eletrônico, interferir apenas nos momentos certos, lembrando o apresentador de detalhes importantes, ou dando a ele um feedback de como está a sua apresentação naquele dia em particular (se está animado/desanimado, se está falando muito rápido para o entendimento do público, se sua movimentação no palco está correta ou se ele está perdendo seu melhor ângulo em relação às câmeras, etc.).

– Comumente, apresentadores lerão as falas no teleprompter. O texto do roteiro, portanto, deve simular a fala informal de uma pessoa (apresentador) comunicando-se com o público.

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