Bom, agora você já tem a sua brilhante ideia. O que fazer? Como coloca-la no papel, ou melhor, na tela em branco do seu processador de textos? Recorro aqui a um grande autor e professor da arte de criar roteiros, Syd Field, que em seu livro “Manual do Roteiro” nos explica bem esse processo. Syd nos fala que devemos desenvolver nossa ideia num Story Line. O que seria isso? Story Line é um resumo da sua ideia, com algo entre 5 e 15 linhas, onde:
– Algo Acontece, a Alguém (Algo que muda a vida do personagem principal de nossa história, o Alguém – e chama a ATENÇÃO de nós, espectadores)
– Algo precisa ser feito (para resolver o Algo que acontece)
e, finalmente,
– Algo É feito!
E o mais importante: tudo isso acontece a ALGUÉM, o personagem, ou personagens, principal da história, o chamado protagonista.
Antes de explicarmos a estrutura do Story Line, vamos a um exemplo prático. Leia o Story Line abaixo:
Um rapaz e uma moça se apaixonam durante uma festa, mas suas famílias são inimigas, e disputam, entre si, o controle de uma cidade. Numa briga entre grupos destas famílias, o rapaz mata um primo da moça e é jurado de morte pela família dela. Desesperada a moça se faz passar por morta numa tentativa de escapar de sua família, mandando avisar seu amado sobre o que está acontecendo. O mensageiro se desencontra do rapaz, e este, pensando que sua amada morreu, se suicida com veneno. Ela desperta e, encontrando seu amado morto, decide suicidar-se também, para finalmente estar junto dele.
Se Shakespeare tivesse escrito um Story Line para “Romeu e Julieta” teria sido, aproximadamente, o descrito acima, onde:
– Algo Acontece: Eles se conhecem? NÃO! Muitos casais se conhecem todos os dias! Eles se apaixonam? NÃO! Uma infinidade de casais se apaixonam todos os dias! Isso é bastante comum! Suas famílias são inimigas? NÃO! Quem não conhece alguém que não gosta dos sogros, ou gente que não suporta sua nora, ou genro? Isso também é muito comum.
Romeu mata um primo da moça e é “jurado” de morte pela família dela – SIM! Este é o Algo Acontece de “Romeu e Julieta”. Porque duas pessoas se apaixonarem, acontece todos os dias; a família da moça não gostar do rapaz, bem, isso é mais comum ainda; mas quando Romeu mata o primo de Julieta ele torna IMPOSSÍVEL o que antes já era difícil. Isso atrai a nossa atenção! Nós ficamos “presos” à história! Queremos saber: “E agora? O que vai acontecer?”. A partir daí, uma pergunta deve ser respondida – Como eles vão conseguir ficar juntos? Para responder a esta pergunta…
– Algo Precisa Ser Feito: Daí ocorrem as várias peripécias da peça quando eles tentarão, por vários meios, ficarem juntos, enquanto declaram seu amor proibido um pelo outro.
Por fim, Julieta, com a ajuda de um padre, descobre uma maneira de se passar por morta e só Romeu saberá. Ela vai ser enterrada e Romeu virá em seu socorro para enfim fugirem e poderem viver juntos. Mas o plano dá errado. Romeu não é avisado e, vendo sua amada morta, se suicida. Julieta, sem esperanças mais de viver junto a seu amado, se suicida também e, finalmente…
– Algo É feito: os dois viverão agora juntos, para sempre… na eternidade.
Então, recapitulando, temos um acontecimento inusitado, que muda repentinamente a vida de alguém (ou mais de uma pessoa), o personagem ou personagens principais, algo que acontece em sua(s) vida(s) e a modifica! Esse algo acontece, que Syd Field chama de ponto de enredo ou ponto de virada, nada mais é do que o que conhecemos na terminologia comum como “gancho”, ou seja, é um fato, acontecimento, que muda a direção da história, que prende a nossa atenção, nos “fisga” (daí a palavra gancho). A partir desse gancho é preciso fazer alguma coisa para resolver a situação criada (Algo precisa ser feito). É a parte do desenvolvimento da história, onde acontece a maior parte da ação e os protagonistas da história tentam resolver a situação criada pelo primeiro gancho – o Algo Acontece.
Finalmente, Algo É Feito, nossa história chega ao final, tem uma solução, a situação criada é resolvida e saímos todos felizes do cinema, refletindo sobre a história que foi contada. É assim que são construídos audiovisuais bem-sucedidos, sucessos de público.
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Way to go Bona!